Depois da briga entre PlayStation e Xbox, a qual já abordei e desmistifiquei aqui, a grande treta no mundo dos games com certeza é a luta eterna entre 30fps vs 60fps. Tem gente que prefere um, prefere outro, ou até mesmo se recusa a jogar um jogo que rode a uma taxa de frames menor do que ele espera.
Muito do que é falado por aí é fruto de falta de informação ou ingenuidade dos gamers, então aqui vamos entender o que é esse tal fps, até que ponto isso afeta uma jogatina e responder os principais argumentos e pseudo argumentos sobre o tópico.
Primeiramente, o que é (taxa de) fps? Você já deve saber, vídeos são composições de imagens estáticas que, quando colocadas lado a lado muito rapidamente, formam algo animado. Fps (ou F.P.S.) é uma sigla para taxa de quadros por segundo – ou seja, quantas imagens são colocadas lado a lado no tempo de um segundo, para dar a sensação de movimento.
Como quem está atento já entendeu, 30fps quer dizer 30 imagens estáticas que são colocadas seguidamente no período de um segundo, e 60fps é o dobro disso. Por isso temos a sensação de que a 60fps temos uma imagem mais fluida e suave, nosso cérebro não precisa preencher as lacunas que o 30fps deixa.
Na nova geração de consoles, criou-se uma grande expectativa para um mínimo de 60fps, já que passamos oito anos com PlayStation 3 e Xbox 360 sendo arduamente explorados pelos desenvolvedores para tirar o maior proveito possível de manter uma qualidade gráfica aceitável, frequentemente sacrificando a taxa de quadros por segundo – enquanto no PC, tornava-se cada vez mais frequente jogar em 60fps ou até mesmo 120fps.
Agora que já sabemos o que é fps tecnicamente e a origem dessa briga toda, vamos analisar o que é dito pela comunidade gamer sobre o assunto.
“Aos olhos humanos, não existe diferença entre 30 e 60fps”
Comecei pelo argumento mais absurdo, que para mim é o correspondente a dizer que o céu não existe. Amigos, existe sim uma diferença grande entre 30 e 60fps. Esta diferença não só está nos aspectos técnicos discutidos na introdução do artigo, mas também na nossa percepção – sim, o olho humano vê diferença entre um e outro.
Não acredite em mim, veja por você mesmo no vídeo abaixo – não se esqueça de habilitar a reprodução em qualidade máxima. É clara a distinção entre um e outro, olhos treinados percebem se a taxa é de 30 ou 60fps até mesmo sem a informação do lado que está presente no vídeo, que inclusive só pôde ser colocado no YouTube já que o site liberou recentemente a opção de 60 frames por segundo – uma grande vitória da comunidade gamer.
Outro exemplo é o lançamento do filme O Hobbit em 48fps em algumas salas de cinema – geralmente, filmes são reproduzidos a uma taxa de apenas 24fps. Veja você mesmo este artigo do blog Preservação Audiovisual no qual o autor diz que parece estar assistindo televisão (na própria TV aberta temos novelas a 60fps). Sim, ele está decepcionado (falaremos disso no próximo subtópico), mas fica evidente em seu texto que a diferença de um para outro é enorme.
“30fps dá um aspecto cinematográfico aos jogos”
Como você deve ter lido no parágrafo anterior, os filmes exibidos no cinema rodam a 24fps, então se nunca ninguém reclamou disso nos filmes, é inútil termos qualquer coisa superior a 30fps nos jogos, certo? Errado. As câmeras utilizadas para os filmes já possuem a função de motion blur de forma nativa, que simula uma imagem mais fluida. Tal função deve ser colocada manualmente nos jogos, dando um aspecto muito artificial e causando problemas de performance. Então, uma coisa não tem nada a ver com a outra.
Agora, veja o argumento de Dana Jan, desenvolvedora de The Order: 1886 sobre a “escolha” de 30fps ao invés de 60:
60fps é muito responsivo e legal (…) mas nós optamos por um visual de filme (…) colocaremos o jogo em 30fps porque 24fps é ruim para jogar. Se forçarmos a taxa de 60fps, teremos um visual de programa de televisão a cabo.
A querida desenvolvedora compara maçãs a laranjas. Filmes são filmes e jogos são jogos, já vimos anteriormente como o “24 fps” do cinema é falso, pois com o motion blur temos a impressão de algo mais fluido. Além disso, temos inúmeros jogos – como Crysis 3 e The Witcher 3 – absolutamente lindos rodando a uma taxa de 60fps ou mais, sem perder o aspecto cinemático e épico.
Portanto, esse argumento também é furado, uma análise profunda no assunto revela claramente que filmes e jogos são mídias diferentes, que não podem ter uma comparação falaciosa como a da desenvolvedora de The Order.
“Mas então, por que temos tantos jogos travados a 30fps?”
Nada melhor do que começar a responder esta pergunta com a citação de Mike Acton, desenvolvedor da Insomniac Games, responsável por Ratchet & Clank, Resistance e tantos outros jogos:
Uma taxa de frames mais alta não afeta as vendas de um jogo, nem as notas da crítica especializada. A questão ainda é importante para a Insomniac, mas não é uma prioridade como era antes.
Mike Acton é bastante claro e direto, os jogadores ainda não dão tanto valor ao fps, nem a crítica. Portanto, se o jogo não vende mais nem tem melhores notas, para que trabalhar tão duro para entregar um recurso que nem é tão observado?
O que acontece é que as produtoras preferem melhorar as texturas, a cor e a vibração da imagem do jogo do que dar a ele um aspecto mais fluido, que comprometeria alguns efeitos em hardwares sem grandes extravagâncias de performance – como é o caso do Xbox One e PS4 no momento.
Como nos computadores a liberdade é (na maioria dos casos) muito maior, é normal que os PC gamers formem uma parcela maior de revoltados quando o assunto é 30fps vs 60fps – só não é normal que se autodenominem “master race”. Afinal, quem joga nos consoles nem sempre tem a opção de comparar, então torna-se algo aceitável neste meio.
Com certeza todas as desenvolvedoras amariam dar uma “taxa de fps ilimitada” para os jogadores, mas os recursos em consoles e na maioria dos PCs ainda não permitem isso sem que os gráficos sejam comprometidos.
Agora, a minha opinião…
Quem leu até aqui certamente está muito bem informado sobre fps. Mas até que ponto isso importa na hora de jogar um game novo, é questão de gosto!
No meu caso, sempre que é possível eu prefiro jogar a 60fps, no caso de quando estou jogando no PC, eu até mesmo abaixo as configurações gráficas de determinado game (como Battlefield: Hardline) para ter uma experiência mais fluida e com “cara de jogo”.
O problema é, não é dada liberdade para quem joga no console (e no caso de ports mal feitos, também não é dada aos PC gamers). Por exemplo, Final Fantasy XIV: A Realm Reborn do PS4 oferece as opções de 720p60fps ou 1080p30fps, quem prefere uma imagem mais suave vai com a primeira opção, quem prefere uma resolução maior vai com a segunda. Infelizmente, apenas a Square Enix parece confiar na habilidade de escolha e inteligência dos jogadores de console, mais produtoras deveriam começar a adotar este sistema até que 60fps vire padrão.
Se você prefere 60fps, entre para o clube. Se você mesmo com a opção de uma taxa maior ainda é fã dos 30fps, perfeito, espero que você sempre tenha a opção de jogar nessa taxa. Mas isso só vai acontecer se as produtoras lembrarem que nós gamers temos um cérebro e podemos decidir entre um e outro, seja no PC ou no console.
Fontes: Technology X, Preservação Audiovisual, Total Biscuit, Kotaku, Engadget, Microsoft.