Análise: Blasphemous 2 expande e aprimora a experiência do primeiro

Blasphemous foi originalmente anunciado através de uma campanha de Kickstarter de relativo
sucesso, arrecadando mais de 300 mil dólares em cima de uma meta de meros 50 mil. Após
seu lançamento, o jogo foi bastante aclamado por seu estilo de arte bastante único e
jogabilidade um pouco “soulslike”, principalmente pelo estilo de combate e metroidvania por
sua exploração e backtracking.

Com o sucesso, era bastante esperado que a The Game Kitchen anunciasse uma sequência
para o jogo. E agora em agosto de 2023, Blasphemous 2 finalmente chegou até nós. Uma
experiência bastante contida, mas extremamente sólida que pode ocupar um espacinho na
lista dos melhores metroidvanias modernos.

A nova jornada do Penitente

A história, que não é nenhum dos grandes destaques de Blasphemous 1, também não recebe
um grande grau de atenção para o segundo jogo. Com uma narrativa relativamente simples e
direta, você segue uma nova jornada do Penitente, o protagonista do primeiro jogo, contra o Milagre.

O destaque aqui está em toda a construção de mundo, cenários e NPCs. Tudo com um estilo
de arte extremamente único e diferente do que estamos acostumados a ver por aí. Com um
toque de adicional de esquisitice, há uma beleza quase que indescritível no bizarro das
releituras de clássicas figuras inspiradas pelo cenário e cultura espanhola.

O design de áudio também recebeu uma atenção especial, com as músicas ambientes
contribuindo para um aumento da tensão e consequentemente, da imersão do jogo, assim
como a voz dos personagens, extremamente característicos. O tom de sofrimento e melancolia
presente no mundo é extremamente bem retratado com sua direção de áudio. Mapas pequenos, mas bem variados.

Uma das principais críticas que os fãs do gênero metroidvania podem fazer a Blasphemous
está na extensão de seus mapas, que são relativamente pequenos quando comparamos com
outros jogos do gênero (como Afterimage, citando um exemplo mais recente). Mas a riqueza
de detalhes em cada cenário acaba compensando por seus pequenos tamanhos, assim como
sua variedade. Cada ambiente é diferente o suficiente para que o jogador nunca se canse de
um mesmo mapa, o que acaba facilitando também o backtracking para os caçadores de
segredos e coletáveis.

Se você tiver curiosidade e não ligar para spoilers, pode dar uma conferida no tamanho no
mapa aqui.

Melhorando o que já era destaque do primeiro jogo

Um dos principais pontos de destaque do primeiro jogo estava em seu combate, bastante
desafiador, com peso nos ataques e que colocava-o em listas e mais listas de soulslike 2D
(entre outras mecânicas como a de perder recursos e precisar voltar ao seu corpo antes de
morrer uma seguda vez). Enquanto Blasphemous te limitava apenas à espada longa do
penitente, a sequência te permite escolher entre três armas principais, com pesos e
velocidades diferentes.

  • Sarmiento & Centella: Um par de floretes, que preza agilidade e ataques mais fracos
  • Ruego-Al-Alba: uma cimitarra, similar à espada do primeiro jogo, equilibrada
  • Veredicto: um mangual, mais pesado e lento para ataques mais poderosos

A escolha determina sua rota inicial do jogo, mas o personagem irá adquirir as três armas ao
decorrer da história, já que elas possuem funções únicas também de exploração e
movimentação – parte bastante importante em Blasphemous. As seções mais complexas de
plataforma envolvem combinações de todas as habilidades e um excelente timing dos controles.

Além das armas, o Penitente também tem acesso à dois tipos diferentes de magias, que
também estão espalhadas pelo mapa, assim como os upgrades de armas, personagem e
outros segredos presentes em qualquer jogo do gênero.

Dificuldade na medida… até um certo ponto

Blasphemous 2 não é um jogo fácil, os inimigos te dão bastante dano e no começo o Penitente
é bem frágil. Então, a tentativa de rushar, correr e não entender o padrão dos inimigos pode
acabar tornando sua jornada um tanto quanto frustrante.

Conforme se avança nas habilidades, é possível dar upgrade na vida e adquirir melhorias para as armas. A medida que vai se entendendo o peso do personagem e de cada ataque, o combate se torna extremamente prazeroso. A sensação de cada ataque nos inimigos é sentida pelo feedback audiovisual.

Há menos lutas de chefões que no primeiro jogo e em consequência são bem mais elaboradas e diferentes. Cada chefe usa mecânicas únicas e a estratégia de atropelar com dano antes que ele te mate raramente vai funcionar. É preciso aprender os padrões e ataques (que são bem telegrafados) se quiser conseguir avançar de modo consistente.

A dificuldade do jogo cresce de uma maneira constante até a última dungeon. O jogador será testado, pois o salto é desnecessariamente grande e pode se tornar bastante frustrante. Inimigos simplesmente te levam uma boa parte da vida (como não visto antes) e há muitas seções de plataforma com espinhos (que também causam um dano considerável).

Esse é o momento de voltar, pegar o que deixou para trás para tentar tornar essa jornada menos penitente (há?!), pois a luta com o penúltimo chefe será um teste de paciência que quase me fez largar o jogo.

Conclusão

Por fim, Blasphemous 2 cresce e desenvolve em cima dos seus pontos fortes do primeiro jogo para se manter na lista dos melhores metroidvanias dos últimos anos. Os desenvolvimentos no combate trazem uma ótima variedade para o jogo. A direção artística (apesar de não ter me atraído no primeiro jogo) se mantém no mesmo altíssimo nível, com cenários, NPCS e inimigos bem desenhados e cheios de expressão, bem como toda a ambientação de áudio.

A história acaba ficando em segundo plano, o que acontece com mais frequência que gostaríamos no gênero, mas todos os outros aspectos de exploração, combate e backtracking compensam.

CONCLUSÃO
POSITIVOS
Várias opções para o combate
Identidade visual única
NEGATIVOS
Mapas pequenos em comparação com outros jogos do gênero