Minha experiência com Scorn foi coletiva. Quando comecei a jogar, minha esposa e um amigo estavam acompanhando completamente intrigados sobre o jogo, principalmente em relação a história e ambientação. Regularmente comentavam sobre teorias, o que achavam que estava acontecendo e o que tudo aquilo significava. Esse foi o ponto alto da minha experiência: compartilhar os momentos intrigantes, de frustração e de descoberta.
Scorn faz um ótimo trabalho nesse aspecto. Ao ser tão críptico e misterioso, a experiência coletiva floresce e dá lugar a algo que vai além da jogatina em si. Tenho pra mim que todo jogo compartilhado fica mais interessante e esse conceito aqui é levado a sério. Mesmo com um combate que me lembra o “peso” dos tank controls de survival horror antigos, a exploração e atmosfera são convidativas e maravilhosamente densas.
“É tipo a arte daquele cara que inspirou Alien”
Sinto que os fãs de H. R. Giger não vão ficar muito contentes com essa afirmação, mas é dessa forma que consegui explicar a estética de Scorn para quem não viu nada sobre o jogo. E de fato é a característica que mais se destaca no pacote. O mundo em que o protagonista habita se retém a estética biomecânica – tudo parece ser de carne e osso, vivo. Os mecanismos que se conectam e fazem os quebra-cabeças girarem parecem uma coisa que respira e tem vida, te observando a todo passo.
A atmosfera, os movimentos lentos, o ambiente opressivo e hostil – todas essas características se embaralham para formar uma jornada que está ali para ser propositalmente desagradável, porém com o intuito de te contar uma história. Uma história que provavelmente vai ser difícil de desvendar e realmente entender, visto que o grau de abstração para vários acontecimentos no jogo precisa ser alto.
É bem difícil tecer comentários concretos que explanem minha experiência com esse tipo de videogame, visto que cada um vai ter um jeito diferente de entendê-lo. Basta olhar as notas que o game recebeu desde seu lançamento. A polarização não é à toa, é o típico jogo que recebe o título de “não é pra todo mundo”. Comentários criticando o passo em como as coisas acontecem e o combate foram comuns de se ver, embora eu discordasse de vários deles.
Quando você compra um jogo, é importante saber o que, de fato, está comprando. Objetivamente, Scorn é um jogo de puzzle. Mesmo que mais pra frente exista uma certa ênfase em combate, todos os encontros servem com o propósito para complementar o “grande esquema” do quebra-cabeça e faz parte de um todo muito maior.
Viscosamente lento
Dito isso tudo, vou tentar resumir um pouco mais objetivamente meus pensamentos e minha experiência sobre esse jogo: é lento. Vou enfatizar: Scorn é um jogo lento. É uma dinâmica que vai te fazer ir e voltar algumas vezes até você entender o propósito de X mecânica ou Y equipamento.
O combate virou uma questão ambígua pra mim. Entendo que é um complemento à experiência, mas creio que poderia ser um pouquinho mais “leve”, dinâmico. As “armas” em Scorn são modulares, constantemente é necessário trocar partes específicas para lidar com inimigos ou abrir portas/resolver puzzles. Por conta disso, ficar vivo com vários inimigos num mesmo ambiente pode ser desesperador.
Mudar o módulo das armas é dolorosamente lento e os inimigos não dão descanso – me parece uma dificuldade artificial colocar monstros de movimentação rápida ou com longo alcance enquanto toda interação e movimento do personagem são tão ligeiros quanto o passo de uma lesma. Munição, vida e toda esse micromanejamento para se manter vivo não possuem a qualidade de vida que deveriam.
Enfim, minha maior crítica fica ao quão espaçado são os checkpoints. Morrer pra um inimigo pode, às vezes, significar um trecho de 10 a 15 minutos perdido, principalmente quando se encontra algum monstro novo ou uma nova interação com o cenário acontece. É necessário assistir toda a “cutscene” da coisa acontecendo, sem pular. Definitivamente foi o que mais me tirou do sério.
Mas e aí, vale a pena?
Depende do que você espera. Posso ter soado negativo nos últimos parágrafos, mas concluo que a experiência num geral foi positiva. Toda a ambientação e construção de mundo são bem acima da média e demonstram um nível de qualidade que não se vê em todo jogo de médio orçamento.
Entretanto, tenha em mente que esse é um jogo lento, às vezes frustrante e com um combate utilitariamente ok. Se você é um fã das obras do Giger e curte essa estética biomecânica, é algo a se considerar. Scorn está disponível para consoles Xbox e PC, incluindo Game Pass.
O jogo foi analisado com base na versão de PC cedida pela Theo Games.