Review – Analogue: A Hate Story

Com uma proposta diferente, Analogue: A Hate Story é um jogo independente lançado em Fevereiro de 2012, mas que chegou à Steam somente em Abril do mesmo ano. Com uma temática mais calma, presença de muita leitura e um conteúdo cativante, Analogue consegue prender a atenção dos jogadores, e mais se parece com um livro em forma de jogo.

Pessoalmente, não recomendo para jogadores que buscam uma ação fervorosa, ou que não tenham vontade de passar, pelo menos, 5 horas lendo na frente de seu computador.

Apesar de não ser focado nos gráficos, o jogo possui uma arte maravilhosa e uma musica muito bem elaborada. As personagens em estilo japonês, uma musica bem tranquila e uma interface de limpa e organizada, deixam o jogo com um toque bem ambientado.

E agora sim, confira tudo timtim por timtim logo abaixo, na review completa.

O Terminal onde tudo começa

Caracterizando um investigador do espaço, nosso personagem começa o jogo com uma mensagem em seu monitor.

É uma proposta de trabalho, requisitando que você, caríssimo leitor, recupere alguns arquivos de uma antiga nave chamada Mugunghwa.

No ambiente em que a história se localiza, a humanidade já se expandiu pela galáxia, habitando grandes espaçonaves com sistemas de governo e outros planetas além da Terra.

Os comandos são digitados pela interface do terminal.
Os comandos são digitados pela interface do terminal.

Ao aceitar o serviço, utilizando os comandos que lhe são dados na primeira interface do jogo, o jogador tem em mãos um pequeno puzzle.

Na verdade, um tutorial do que seria uma das ferramentas mais interessantes do jogo: O Terminal. Ali, o jogador assume uma posição de usuário administrador do terminal, e deve inserir comandos para prosseguir.

Impossibilitado de realizar a transferência dos arquivos diretamente para seu computador, o jogador se vê obrigado a lidar com as inteligências artificiais para conseguir a senha que desabilita os downloads. E é exatamente nesse ponto, que toda a ideia de simples tarefa, se transforma em uma investigação sobre um passado distante, de mais de 600 anos atrás.

A inteligência artificial *Hyun-ae

A interface do jogo é bem limpa e a arte dos personagens é maravilhosa
A interface do jogo é bem limpa e a arte dos personagens é maravilhosa

Ao ativar a inteligência artificial, a situação se encontra na apresentação de uma personagem de cabelos pretos, chamada *Hyun-ae.

Ela explica que o asterisco em seu nome significa que é uma inteligencia artificial. Estes asteriscos estarão presentes nos remetentes de algumas mensagens mais à frente do jogo.

É com a companhia de *Hyun-ae que nosso investigador faz a leitura de diversas mensagens trocadas por habitantes da nave, há muitos anos atrás.

Vale ressaltar aqui que a empresa produtora de Analogue: A Hate Story, cujo nome é Love Conquers All Games, se caracteriza muito pelo estilo de jogo mais conversado, com toques de simulador de encontros, e também uma presença marcante da cultura asiática, seja pela arte japonesa (mangá/anime), seja pelos nomes de seus personagens em coreano, etc.

Durante a leitura das mensagens, a influência asiática se torna muito evidente, e às vezes dificulta muito a memorização dos nomes de cada personagem. É de senso comum que os nomes ocidentais se diferem muito dos nomes orientais, logo, temos que, muitas vezes os personagens são representados por seus sobrenomes, em outros momentos, chamados pelo próprio nome, e essa característica confunde muito na hora da leitura.

Ao fim de cada mensagem, o jogador tem a opção de clicar sobre *Hyun-ae e receber um pouco mais de informação, como um segundo ponto de vista, sobre os ocorridos citados na mensagem. Eventualmente, a inteligencia artificial virá falar com o investigador, em algumas pausas, para conversas que elaboram o que seria uma linha secundária na história do jogo.

Um ponto interessante do jogo é que este aborda muitos pontos dramáticos e que são reflexo da vida real, como por exemplo, adultério, esterilidade, crimes entre castas, manipulação e muitos outros pontos. Analogue consegue acertar pontos de clímax em cada uma de suas histórias, dando uma estrutura firme ao que está sendo contado para o jogador.

Essa forma de criar uma trama, e ao mesmo tempo, adicionar carisma aos personagens é um ponto forte no desenvolver do jogo. Que por sua vez, pode se tornar muito cansativo, por consistir em leitura de mensagens, muitas vezes extensas.

Mas tudo se resume em cliques?

A jogabilidade pode se tornar entediante, em alguns momentos, onde toda interação do jogador se baseia em cliques para descer páginas e selecionar mensagens.

Porém, o jogo faz com que a inteligência artificial mande, entre períodos da história, algumas perguntas diversas ao jogador. Essas fisgadas ao jogador são um diferencial, onde em alguns e-mails secundários, a própria inteligência artificial comenta que “esse assunto é um pouco entediante“, “essas mensagens não possuem tanto significado” e que, ainda assim, conseguem cativar à leitura.

Confira um pouco do gameplay para dar um embasamento no assunto:

O clímax da trama se encontra um pouco mais da metade da história, e tem a situação focada em um puzzle do Terminal. Onde o usuário deve utilizar da lógica e dos comandos que lhe são dados para solucionar problemas e ao mesmo tempo, fazer uma decisão crucial no encerramento do jogo.

Veja a galeria abaixo, para entender como funciona um pouco da organização do jogo e a separação das mensagens:

Uma leitura silenciosa

Analogue pode ser jogado, também, em coreano.
Analogue pode ser jogado, também, em coreano.

A trilha sonora do jogo é maravilhosa, lembra um pouco a série Trauma Center, com um fundo de som mais calmo e propício para a leitura das mensagens. A trilha sonora varia de acordo com as situações, e representam bem o ambiente desejado para cada momento.

Ler pode se  tornar um pouco solitário, no entanto, porque o som de fundo é tudo que o jogador irá ouvir além de seus cliques. Sem a presença de vozes aos personagens, em momento algum, o jogador irá ouvir algum personagem falar. Todo o conteúdo é disponível somente em forma de texto.

Esse ponto é interessante, e até explorado durante a história, o que dá uma certa característica ao jogo. Porém, a presença de voz em alguns personagens tornaria mais interessante, humanizaria um personagem que já estabelece bem um laço com o jogador. Seria interessante que explorassem a adição de fala no futuro, para laços mais fortes entre investigador e inteligencia artificial, dando mais valor às decisões tomadas.

A ausência de fala permitiu a desenvolvedora que, todo o conteúdo do jogo, fosse passado para coreano. Expandindo o publico para o oriente, onde jogos assim, voltados ao estilo de visual novel tem mais atenção. É um ponto interessante, que ressalta o que a desenvolvedora mais trabalhou em Analogue: A Hate Story: os pequenos detalhes.

As múltiplas linhas do tempo

Analogue: A Hate Story e sua sequencia Hate Plus.
Analogue: A Hate Story e sua sequencia Hate Plus.

O jogo investe bem em acertar na curiosidade do jogador. Com vários caminhos a serem seguidos, o jogador pode finalizar sua aventura com apenas 25% de conteúdo habilitado, como pode também, finalizar com 100% do conteúdo. Tudo irá depender das escolhas feitas pelo investigador ao interagir com a inteligência artificial.

A presença de mais de um final torna então, a experiência de jogar, um pouco menos cansativa. A opção de pular as conversas também auxilia para aqueles que só estão interessados em ver o final do jogo, por já terem habilitado todo conteúdo a ser lido.

O mais interessante é que, quase todos os finais que o jogador habilitar, poderão ser utilizados na sequencia do jogo: Hate Plus. O que motiva ainda mais que os jogadores finalizem as histórias, dando portabilidade à essas ramificações da história para uma sequencia no mesmo estilo.

Então agora que está tudo explicado, vamos ao veredito final, onde julgaremos se Analogue: A Hate Story, um jogo independente produzido pela desenvolvedora Love Conquers All Games, vale a pena ser comprado e jogado ou se é só mais um no meio dos indie games.

Conclusão

Primeiramente, avalie o seu perfil de jogador. É um jogo o qual você estaria disposto a gastar boa parte do seu tempo lendo? A parte mais complicada em se explicar sobre Analogue: A Hate Story, é que esse estilo de jogo não é tão disseminado quanto os outros gêneros. A proposta de uma visual novel é, acima de tudo, contar uma história ao jogador. Boa parte dessa história será contada com longos textos e muita conversinha com os personagens do jogo.

Então, se você se encaixa nesse grupo de pessoas, sinta-se muito seguro para jogar Analogue. O jogo não peca em sua história, e passa muita sutileza e informação em seus detalhes. Com personagens que agradam a todo tipo de público, os diálogos e mensagens prometem ter um peso significante no embasamento de cada história a ser contada.

Combinando toda essa escrita com uma trilha sonora pacífica, temos um ambiente limpo e agradável, perfeitamente ambientado para o estilo do jogo. Finalizando com múltiplas decisões, posso dizer que, pessoalmente, Analogue: A Hate Story, quando somado com sua sequência, Hate Plus, formam juntos uma das melhores e mais bem elaboradas tramas de jogos independentes que temos nos dias de hoje, ultrapassando até algumas produções de grandes corporações.