Primeiras impressões: The Council é a prova de que toda ação gera consequências

Primeiras impressões: The Council – Episódio I: “The Mad Ones” (2018)

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Um dos grandes diferenciais que muitos jogos vem abordando, mais recentemente, é a possibilidade de ver o gameplay se moldar às escolhas do jogador. Relembrando casos mais conhecidos, em Dragon Age Inquisition, por exemplo, tínhamos caminhos muito diferentes de acordo com a facção que escolhíamos apoiar, magos ou templários. A Telltale tem levado esse modelo mais além, com seus jogos narrativos, criando obras fortemente ancoradas nas histórias e que possuem múltiplos finais, definidos a partir das escolhas tomadas ao longo da jogatina; um grande exemplo é o The Walking Dead criado pelo estúdio. Por fim, mais recentemente, tivemos ainda Life is Strange, com a mecânica de voltar no tempo e poder testar os diferentes resultados para cada uma de suas ações e escolher aquela que mais te agradar.

Nessa mesma pegada, foi lançado na última terça, dia 13 de março, o primeiro episódio de The Council. Criado pelo estúdio Big Bad Wolf, com suporte da Cyanide e distribuição pela Focus Home Interactive, o jogo se apresenta como uma experiência de aventura narrativa, na qual suas escolhas e o desenvolvimento de seu personagem realmente importam. Cada ação deve ser cuidadosamente pensada e tudo o que for feito terá impacto no desenrolar da história. Tive a oportunidade de testar esse primeiro episódio, The Mad Ones (de um total de cinco, com os demais ainda a serem lançados), e trago aqui minhas primeiras impressões.

O enredo

The Council se passa no ano de 1793 e brinca com personagens e situações daquele período histórico, mesclando realidade e ficção. Você controla o personagem Louis de Richet, membro de uma sociedade secreta, a Golden Order, que possui ramificações em diversos países do mundo e atua nos bastidores da política mundial da época, exercendo sua influência e auxiliando figuras históricas conhecidas, que vão de George Washington a Napoleão Bonaparte.

A mãe de Louis, Sarah de Richet, é a líder da Ordem na Inglaterra, e está investigando o roubo e venda de um livro misterioso. Suas investigações a levam até a ilha do excêntrico Lord Mortimer, que vive recluso no local e realiza grandes encontros, aos quais só grandes personalidades são convidadas.

A aventura começa quando o seu personagem, Louis, recebe uma carta do Lord Mortimer em pessoa, informando-o de que Sarah desapareceu na ilha e enviando um convite para que vá até lá e auxilie nas investigações. Louis parte, então, em busca de sua mãe, e precisa decidir, ao longo de sua jornada, em quem confiar e, principalmente, como agir para desvendar os mistérios envolvendo o desaparecimento de Sarah de Richet e os demais convidados presentes na ilha.

O gameplay

The Council introduz um sistema de jogabilidade bastante interessante, no qual cada ação exige diferentes níveis de esforço do protagonista. Há uma barra de energia que indica quantos pontos de esforço ainda estão disponíveis, bem como uma série variada de medicamentos, espalhada ao longo dos cenários, que auxilia na recuperação desses pontos e na criação de diferentes estados que podem ajudar Louis ao longo de sua investigação.

Algumas situações, por exemplo, podem deixar o herói exausto, como ser pego em flagrante em um momento constrangedor. Caso permaneça nesse estado de exaustão, serão necessários muito mais pontos de esforço para realizar certas ações, mas, se você optar por tomar um dos medicamentos disponíveis, esse estado de exaustão desaparece e você pode voltar a performar ações pelo seu valor de esforço normal.

Também há uma árvore de habilidades dividida em três grandes classes: diplomata, ocultista e detetive. De acordo com a classe escolhida no início do jogo, você já começará com determinadas habilidades desbloqueadas e que custarão menos esforço para serem realizadas. Se você escolher ocultista, por exemplo, poderá arrombar fechaduras com mais facilidade; por outro lado, se escolher diplomata, terá mais familiaridade com o cenário político e com línguas estrangeiras. Dessa forma, cada perfil de personagem irá facilitar certas ações e dificultar outras, proporcionando um gameplay bastante diferenciado a depender da classe escolhida.

O jogo se desenvolve com um misto de exploração e diálogos; você explora os ambientes coletando pistas e medicamentos e conversa com os personagens a fim de descobrir novas informações. Ao longo dos diálogos, também é possível, a partir das escolhas tomadas, descobrir vulnerabilidades e resistências de cada um dos seus interlocutores. Dessa forma, conhecendo bem as personalidades de cada um dos presentes na ilha, você conseguirá explorar suas fraquezas e se sair bem-sucedido na busca pelas informações de seu interesse.

Diferentes escolhas, diferentes resultados

De fato, The Council cumpre sua promessa de ajustar o gameplay de acordo com as escolhas do jogador. O primeiro episódio, The Mad Ones, pode ser concluído entre duas horas e meia e três horas, a depender do tempo investido nas explorações e diálogos com cada personagem. Joguei o episódio duas vezes, escolhendo, sempre que possível, caminhos totalmente opostos, para ver como Louis se sairia em cada um deles.

Sim, existem situações padrão que se repetem, independentemente das escolhas feitas – isso é necessário para que a história tenha coesão e se desenrole tal qual previsto. No entanto, também existem situações totalmente distintas que vão variar de acordo com os caminhos escolhidos. Não vou detalhar muito o enredo para não dar spoilers, mas, por exemplo, em determinado momento, eu poderia ficar com um grupo de personagens em frente à lareira ou me juntar a outro grupo para um lanche na sala ao lado. Caso ficasse com o primeiro grupo, ficaria sabendo de informações bastante importantes sobre a mãe de Louis, Sarah; caso fosse com o segundo, conheceria uma nova personagem e ficaria a par de uma outra situação paralela que também estava acontecendo na ilha.

Os finais também são bastante diferentes; no meu primeiro save, optei pela classe de ocultista e minhas escolhas acabaram me deixando em uma situação terrivelmente ruim diante dos demais personagens na ilha ao final do episódio. Já no segundo save, optei pela classe de diplomata e consegui fazer grandes alianças e me encontrar com personagens totalmente diferentes, terminando o episódio de uma maneira relativamente positiva. Obviamente, o conhecimento de algumas informações importantes, descobertas no primeiro save, me ajudaram a me dar melhor na minha segunda tentativa. Ainda assim, permanece agora a curiosidade em saber como o jogo irá conduzir esses finais tão opostos nos próximos episódios, e como isso se reverterá na conclusão do jogo.

Entre altos e baixos, o resultado é promissor

The Council se apresenta como uma inovação no nicho dos jogos narrativos; infelizmente, nem tudo é tão novo quanto anunciado. Apesar de ser um jogo lançado em 2018, tanto os gráficos quanto a movimentação do protagonista são bastante limitados e por vezes frustrantes. Tudo bem, estamos falando de um lançamento de um estúdio independente, mas esperava mais dos aspectos técnicos do jogo, principalmente ao ver que a versão para consoles custa em torno de cem reais, valor relativamente alto para um indie.

Senti falta de uma ferramenta para ajuste de brilho logo no início do jogo. O primeiro cenário é a céu aberto e durante a noite e o resultado foi um ambiente bastante escuro e difícil de explorar. Acabei deixando algumas pistas passarem durante o meu primeiro save pelo motivo de simplesmente não ter conseguido enxergá-las durante a exploração.

Outro ponto relativamente incômodo é que o jogo parece fazer questão de jogar na sua cara, constantemente, a enorme variedade de escolhas disponíveis. É bastante comum, a cada cena, pularem mensagens na tela dizendo “oportunidade perdida devido à falta da habilidade X ou Y”. A questão é: estamos no começo do jogo e os pontos de habilidade ainda são bastante limitados; então, independentemente da classe adotada, ou de como você escolha distribuir esses pontos, sempre existirão muito mais caminhos que não poderão ser tomados de qualquer forma. Chega a ser irritante ser lembrado a todo momento de que há coisas que você não está acessando porque simplesmente não há como, a menos que você repita o episódio várias e várias vezes e em cada uma delas escolha uma distribuição de pontos bastante específica (e, ainda assim, você esbarraria em outro obstáculo, uma vez que o jogo aparentemente só permite o armazenamento de três saves distintos).

Outro aspecto um tanto incômodo é que, mesmo com o jogo dando todos os incentivos para que você jogue várias vezes e escolha caminhos diferentes, não existe a possibilidade de avançar os diálogos padrão. Como mencionei anteriormente, independentemente dos caminhos escolhidos, haverá algumas situações que sempre irão se repetir, e acaba sendo meio maçante assistir a mesma cena novamente, sem ter ao menos a opção de acelerar esses diálogos.

Ressalvas à parte, no que diz respeito ao elemento central do jogo, que é a história, The Council começa muito bem com seu primeiro episódio. A trama é bastante interessante e repleta de nuances e, certamente, deixará os fãs de histórias de detetive ou de investigações policiais bastante empolgados. Todos os personagens são muito bem construídos e abre-se uma série de portas para situações que possivelmente irão se desenrolar ao longo dos episódios futuros. A opção por incluir figuras históricas conhecidas e mesclar alguns fatos reais com outros de natureza sobrenatural dão todo um charme e uma peculiaridade ao jogo, tornando a ambientação e o enredo bastante convincentes e atrativos.

A expectativa fica por conta dos próximos episódios, ainda a serem liberados. Resta saber se o estúdio Big Bad Wolf vai conseguir atender às expectativas levantadas com The Mad Ones e, principalmente, se a promessa de levar as escolhas feitas ao longo do jogo à caminhos e finais extremamente personalizados e diferentes entre si irá se concretizar. Estou ansioso para conferir.

The Council está disponível para PS4, Xbox One e PC. O jogo não está disponível em português, então é necessário um entendimento mínimo de inglês, ou de um dos demais idiomas suportados, para poder jogar sem grandes dificuldades e aproveitar ao máximo tudo o que a história tem a oferecer. Confira mais informações sobre o jogo no site oficial, aqui.

 

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A análise foi feita com base na versão para PS4, gentilmente cedida pela Focus Home Interactive.

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