Geração Fliperama: um pouco da época em que uma ficha valia tudo para nós

O anúncio do novo Marvel vs Capcom durante a PlayStation Experience 2016 me fez sentir saudade de um tempo que não volta mais, principalmente para os fãs dos jogos de luta das antigas. A geração fliperama, que cresceu em lojas repletas de máquinas de jogos, hoje em dia acabou migrando para os seus consoles ou PC.

Se hoje temos um suporte bem feito dentro de uma rede online que nos possibilita enfrentar todo e qualquer jogador do mundo, antes um sentimento assolava sobre nossos ombros: o medo de perder sua preciosa ficha.

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O rei do pinball, ou quase isso

Minha paixão por videogames certamente começou quando ganhei o meu primeiro console: um Master System de segunda mão, com Alex Kidd in The Miracle World na memória. Mas, antes disso, eu já havia sido apresentado ao mundo do Arcade.

Meu pai, que na época não era muito mais velho do que eu sou agora, além de um grande fã de Arquivo X, também gostava muito de Pinball. E no meu bairro tinha a combinação perfeita: um Pinball temático do seriado americano. Para mim, meu pai era o verdadeiro Pinball Wizard. Eu não era muito bom (nada bom, na real) e achava impressionante como ele simplesmente não deixava a bolinha cair. Ou talvez tenha sido esta imagem que eu imortalizei na minha mente. Ele ganhava muitos pontos, passava para mim e eu estragava tudo. Mas um dia eu chegaria lá.

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O filme Tommy, com o The Who, é imperdível para os fãs de Arcade e do Rock N` Roll

Comecei jogando o pinball e aprendi a dar o valor necessário, ou talvez um pouco exagerado, às preciosas fichas que eu ganhava do meu pai. Mas, ao contrário dele, decidi me aventurar nas outras máquinas.

Passei horas, dias, séculos e muito mais que isso dentro dos fliperamas, jogando Mortal Kombat, Street Fighter e o já citado Marvel vs. Capcom — este que foi provavelmente o jogo que eu mais joguei nessa época.

Nada pode se comparar à sensação de você chegar com seus amigos e ter alguém na máquina jogando contra a CPU. A famigerada pergunta “posso botar contra?” vinha logo depois. Isso era o terror de qualquer criança.

Era um tempo bom e que me ensinou a amar mais ainda os jogos.

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O medo de perder em sua forma mais pura

Os jogos evoluíram muito, o que é uma tendência natural no mundo tecnológico, mas infelizmente o sentimento acabou mudando junto. A menos que esteja competindo em um torneio, você sabe que pode, a qualquer momento, desligar seu videogame quando o sangue esquentar. Pode dar o famoso “rage quit” quando seu adversário lançar o especial que estava segurando para te finalizar com estilo.

Mas, meu amigo… quando o assunto era no fliperama, você tinha que engolir seco. Olhar nos olhos do garoto que frequenta o mesmo local que você, sem sequer saber o seu nome, e ser derrotado por ele na frente de todo mundo. E era disso que a gente tinha medo.

O medo, que, aliás, é um sentimento que DEVE ser bem utilizado nos games. Temer o “chefão”, temer o seu adversário. Temer ser envergonhado (por mais que perder não seja vergonha nenhuma), temer aquela fase sombria. Temer a moreia do Mario 64, as portas do Resident Evil. Sem o medo, não existiria a coragem. E sem a coragem, não existiria o desejo de enfrentar o desconhecido. E isso é a base das aventuras que os jogos nos proporcionam.

Eu aprendi com o fliperama que eu precisava ser bom naquilo para não perder minha ficha. E, a verdade seja dita, eu não era muito bom. Mas as derrotas me fizeram querer melhorar. Até hoje encaro os jogos assim. E isso é praticamente uma lição de vida que eu carrego comigo.

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Vão as fichas, ficam as histórias

Hoje em dia eu não frequento mais as tais “Lojas de Fliper” — até porque elas são cada vez mais difíceis de se encontrar. Sinto falta de Metal Slug, “Cadillac & Dinossauro” e Mortal Kombat II. Posso jogá-los aqui no meu computador, em um emulador. Mas, convenhamos, não é a mesma coisa.

Por mais solitário que seja, é ótimo estar de frente para a televisão jogando um jogo que proporciona uma história fantástica. No entanto, para mim não se compara à sensação de jogar com os amigos.

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Não deixo de jogar grandes jogos single player, mas hoje em dia percebo que dedico mais o meu tempo aos jogos cooperativos. Talvez seja uma forma de matar a saudade de estar jogando com os amigos. Ou simplesmente uma paixão pessoal pelas histórias que podem render ao jogar acompanhado de alguém.