Até onde ser imortal faz bem a um ícone?

Será que em 1985 alguém apostou fichas na possibilidade de que Super Mario Bros se tornaria um ícone dos video games, com jogos atravessando gerações, e cravaria seu nome para sempre na história da cultura pop? Certamente não, mas a manutenção da franquia Mario funcionou lá atrás e vem funcionando desde então, por incrível que pareça.

Há quem diga que o saudosismo é capaz de ressuscitar qualquer jogo do passado, que nenhum grande personagem adormecido da história dos games deveria continuar adormecido. Há quem diga que certos jogos, que continuam tendo lançamentos, já deveriam ter sido colocados para escanteio. Mas, afinal de contas, quando é a hora de um imortal descansar?

Sonic x Mario

A década de 90 nos trouxe dezenas de jogos que marcaram época. Sonic e Mario foram os protagonistas de um duelo que representava muito mais que dois personagens se enfrentando. Eram as duas grandes empresas da época, tais como a Sony e a Microsoft são nos tempos atuais, e a rivalidade reflete nas escolhas dos adultos até hoje. A revolução gerada pelos dois jogos redesenhou o trajeto das desenvolvedoras por muito tempo, afinal, eles eram a referência e por muito tempo seguiram assim.

Mario se tornou um senhor bem conservado. Soube se renovar, se reconstruir, se repetir e não perder a maestria. Há quem diga que os jogos são bobos demais, pouco inovadores mas uma coisa não podemos negar: a Nintendo lapidou sua principal fonte de riqueza de uma forma que nenhuma empresa fora capaz. Mario ainda é um personagem capaz de vender muitas cópias, de encantar crianças e colocar um sorriso no rosto da velha guarda, que um dia teve no encanador bigodudo como seu personagem favorito.

Mas, infelizmente, não podemos dizer o mesmo do ouriço azul. Sonic tropeçou bastante em seu caminho, protagonizou grandes jogos nos anos 90, mas com a desconstrução da SEGA o seu principal ícone entrou em uma constante queda livre, com breves lampejos do que um dia representou, mas sem conseguir emplacar um grande título. Tempos depois, acabou por se unir ao seu maior rival, dividindo jogos e sendo convidado a títulos memoráveis, como Super Smash Bros. A verdade é que o fim de Sonic será triste. Mesmo que muitos gostem de seus jogos mais novos, todos sabemos que, ao menos hoje, ele não figura nem de perto entre os principais jogos do mercado.

O paralelo traçado entre Mario e Sonic mostra que, infelizmente, a imortalidade não faz bem para todos. Não podemos sugerir que a SEGA dê um fim a Sonic, afinal é impossível destruir um ícone. Mas, talvez, um longo repouso possa fazer bem.

Kratos

Dar um ponto final não é sinal de fraqueza

Voltamos aos tempos atuais, na geração dos belos gráficos, remasterizações, das DLCs e do “Mas no seu video game ele roda a 60fps?”. Se você teve acesso a um console PlayStation nos anos 2000, certamente você jogou algum God of War. Talvez não na sua casa, pode ter sido na casa de um amigo, numa loja… mas posso apostar que você compreende a dimensão da popularidade que Kratos criou, desde seu nascimento. Nos tempos modernos, Kratos provavelmente é o grande representante da força do Playstation.

God of War se tornou um dos grandes jogos da história. Revolucionou a indústria, cravou o estilo “hack and slash” como um padrão a ser seguido e com belíssimos gráficos esteve sempre no topo de sua geração. Não podemos negar que a Santa Monica acertou a mão. Todos sabemos que um anúncio de um novo título da franquia é esperado por muitos fãs do espartano. Mas será que isso seria bom? A verdade é que God of War III fechou um arco espetacular, deu a Kratos um lugar eterno na calçada da fama dos personagens de video game e marcou muitos e muitos gamers de sua época. Mas todos se lembram de God of War Ascension, não é? Posso apostar que ninguém gostaria de ver um novo jogo repetir o fiasco que foi o mais recente – e desnecessário – capítulo da franquia. Kratos não merece isso. E o principal: nós, os fãs, não merecemos.

Temos exemplos de grandes mitos que foram deixados de lado e que nos dão saudade. Crash é um deles. A grande maioria dos jogadores que tiveram um PSOne e acompanharam a trajetória de Crash clamam por um retorno do personagem aos tempos modernos. A Naughty Dog parece não ter planos para ele, assim como não planeja dar uma vida muito longa ao, já renomado, Uncharted. Vimos franquias que ressurgiram não se saírem muito bem, caso de Golden Axe, que teve em Beast Rider um grande exemplo do quão horrível pode ser trazer um grande jogo adormecido aos tempos modernos.

E esse é o momento que divide opiniões, que gera uma certa confusão mental até mesmo nos fãs. O tempo de Kratos acabou? Talvez devêssemos aceitar que deixar o Deus da Guerra adormecido possa fazer bem a comunidade gamer e ao próprio personagem. Vale a pena ressuscitar o antológico Crash nos tempos atuais e correr o risco de estragar a herança que ele deixou? Devemos reconhecer que existe muito espaço para novos jogos surgirem e se firmarem como ícones do seu tempo. Numa geração polarizada em jogos remasterizados e grandes jogos indie, podemos esperar que novos grandes personagens possam surgir e marcar seu nome na história?

Seja como for, desejos pessoais a parte, os velhos guerreiros também merecem um descanso.

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