Análise: Watch Dogs 2 diverte, supera o antecessor e leva a série à redenção

O lançamento do primeiro Watch Dogs, em 2014, foi cercado de expectativas e boas intenções. Apesar de trazer ideias inovadoras para o gênero de mundo aberto, o jogo da Ubisoft foi duramente criticado por falhas na execução. Concordei, em parte, com as críticas. O fato é que Watch Dogs 2 chegou com a difícil missão de superar o passado e levar a série à redenção. Felizmente, ele consegue.

A trama de Watch Dogs 2 permanece intacta: vivemos em cidades inteligentes monitoradas por um poderoso sistema informatizado — chamado de ctOS — capaz de controlar o fornecimento de energia, câmeras de vigilância, smartphones e mais. Blume é a grande vilã do jogo, empresa responsável pelo ctOS, que negocia ilegalmente os dados confidenciais dos cidadãos com grandes corporações em busca de benefício próprio (o obscuro mercado negro da venda de dados).

Neste cenário, você controla Marcus Holloway, membro do DedSec, uma organização secreta de cunho anarquista que usa habilidades hackers em prol do utópico “bem maior”. Diferentemente do título anterior, cujo protagonista Aiden Pearce era movido por uma vingança pessoal, Marcus é, de fato, um hacker comprometido com a causa do DedSec. Além disso, ele tem um ar mais leve, bem-humorado e carismático que seu predecessor — características compartilhadas por todo o elenco de coadjuvantes.

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As motivações dos personagens, todavia, contradizem com as mecânicas. Marcus é um anti-herói, não um criminoso. Seu objetivo é acabar com a corrupção e a manipulação da informação. Então por que causar acidentes e roubar contas bancárias alheias? O uso de armas de fogo, por exemplo, não se justifica. Felizmente, embora todas essas mecânicas estejam disponíveis no jogo, é possível não usá-las. Para não prejudicar a imersão, sempre que possível, utilizei uma abordagem stealth e menos destrutiva.

De modo geral, as missões consistem em invadir um lugar, hackear um terminal e executar um plano de fuga. Parece simples, mas há diversas formas para fazer isso, e é divertido variar as abordagens. As várias habilidades de Marcus abrem um bom leque de possibilidades, mas ainda é possível utilizar soluções “fora da caixa”: sem sequer colocar o pé dentro da área, pode-se usar um Drone ou um Jumper — os novos gadgets do protagonista — para concluir o objetivo em segurança. Por fim, não há mais Torres para serem desbloqueadas no mapa.

Outro aspecto bastante criticado no título de estreia da série, e que foi melhorado nesse jogo, diz respeito ao controle dos veículos. Como se esquecer dos vídeos comparando essa mecânica com a de GTA? Para a nossa alegria, a programação do controle dos automóveis foi totalmente redesenhada, no que diz respeito à física, peso do carro, derrapagem e afins. Ainda não é tão boa quanto GTA, e definitivamente a direção não é o melhor aspecto do jogo. No entanto, Watch Dogs 2 tem brilho próprio e se torna ainda melhor se evitarmos comparações com o jogo da Rockstar.

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Quem me conhece sabe que gosto de puzzles, e Watch Dogs 2 é um verdadeiro playground nesse aspecto. Para hackear alguns terminais, Marcus precisa resolver puzzles que envolvem circuitos. No primeiro jogo, os circuitos apareciam em um painel virtual (que lembravam um Matrix). Em Watch Dogs 2, os circuitos estão fisicamente instalados no terreno, o que adiciona uma complexidade saborosa, obrigando o jogador a se deslocar fisicamente para resolvê-los (dica: use o Drone).

O multiplayer de Watch Dogs 2 também está muito divertido. Há basicamente três modos: Cooperativo, Recompensa e Invasão. O primeiro modo, Cooperativo, consiste em jogar missões com um amigo, ou simplesmente vagar livremente por São Francisco. O modo Recompensa possui duas abordagens: caçar outro jogador que está sendo procurado pela polícia; ou forjar um boletim de ocorrência contra você, fazendo com que outros jogadores venham caçá-lo (isso é sensacional e possui alto fator de desafio).

E o terceiro modo — que me fez varar noites jogando — é o Invasão, que consiste em adentrar o mundo de outro jogador e baixar, silenciosamente, dados do celular dele (basicamente a mesma coisa que havia no primeiro jogo). E se ele detectar a sua presença, você deverá fugir. É possível invadir jogadores aleatórios ou amigos. E eu, realmente, gostaria de ser invadido com mais frequência.

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A representação de São Francisco, em Watch Dogs 2, possui uma fidelidade geográfica incrível e rica. Das praias e regiões montanhosas, até o polo tecnológico do Vale do Silício, passando pelos subúrbios, há sempre NPCs realizando algum tipo de atividade. Há, indubitavelmente, uma evolução gráfica. Ao olhar uma superfície com reflexo, é possível ver todo o ambiente que está atrás de você, e não um cenário fake, aspecto criticado no primeiro Watch Dogs.

A trilha sonora do jogo é outro aspecto que merece destaque, não só por ter a música de Daniela Mercury (não estou mentindo), mas por conter um catálogo rico e eclético. A trilha sonora original — músicas que tocam durante as missões — também são ótimas e adicionam um ótimo tempero ao jogo. Cabe também um elogio à equipe responsável pelo design de interface e menus do jogo, que alguns diriam que é hipster, mas eu considero moderno e atual, estabelecendo uma identidade visual única para a série.

Watch Dogs 2 é uma mudança de atitude, para melhor. Se desprende do passado, descarta o que não funcionava no primeiro jogo, aprimora o que funcionava, corrige as falhas e insere uma porção de novos recursos. A Ubisoft também é digna de elogio por utilizar um marketing silencioso, anunciar o jogo de maneira modesta e com data de lançamento para o mesmo ano. Sem hype, nem falsas expectativas.

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Esta análise foi realizada com base na versão de PS4 gentilmente cedida pela Ubisoft. Watch Dogs 2 está disponível para PlayStation 4, Xbox One e PC.

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