Análise – Undertale

UNDERTALE (♥) certamente é um dos melhores, senão o melhor, jogo indie de 2015.

Lançado no dia 15 de setembro para PC na plataforma Steam, o estilo pixelado e old-school  de Undertale faz o jogador pensar que é apenas mais um mero RPG retrô como vários outros que são lançados, levando em conta seu visual bem simples e fácil de entender (pelo menos à primeira vista). No entanto, engana-se quem pensa que Toby Fox, produtor do jogo, fez um RPG despretensioso com espadas, magia e cristais para derrotar um antagonista principal. Ele foi além disso. Muito além.

Undertale pega um estilo já manjado e o altera de tal forma que prende o jogador a não querer mais parar de jogar e o fazer querer saber, mais e mais, o que acontecerá em seguida. Essa sensação que pouquíssimos jogos conseguem trazer talvez seja o motivo de Undertale ter, até o dia de hoje, 37 mil reviews positivas na Steam contra apenas 1 mil reviews negativas e um Metascore de 92 pontos, sendo o jogo para PC da atualidade com a maior pontuação do Metacritic.

Mas por que é tão bom?

Todos os elementos se casam de forma espetacular. Apesar do hype, confesso que não tinha grandes expectativas quanto ao jogo. Comecei a jogá-lo sem compromisso nenhum, o clima no começo te dá esse ar de algo que não há muito que oferecer. Porém, conforme você vai deixando ser levado, logo você percebe a magia do game, aquilo que te prende, que te faz se importar: os NPCs.

Pode soar estranho, mas os NPCs provavelmente são a parte mais crucial de Undertale. O nível de importância deles para o desenvolvimento e evolução da história e o carisma deles fazem o jogador sentir que realmente está lidando com seres vivos, com sentimentos, e não apenas sprites programados para responderem frases genéricas ao interagir com eles. Poucos minutos após tomar o controle do protagonista, o jogador já começa a sentir certo carinho e compaixão por alguns personagens.

A construção desses personagens é realmente profunda, possibilitando ver todo o cuidado que Toby Fox teve na hora de criar cada NPC, cada frase dita por eles e como cada sentimento de cada um é expresso de forma singular e impressionante. Fontes diferenciadas, letras maiúsculas e minúsculas, cada um com uma “voz” diferente e marcante e a variação de velocidade com que as frases vão aparecendo na tela são alguns dos artifícios que foram usados em excelência para demonstrar os sentimentos de cada NPC.

Essa característica do jogo é tão marcante que até mesmo os adversários de encontros aleatórios e chefes podem ser poupados da luta e, dessa forma, você pode passar o jogo inteiro sem matar um monstro sequer. Tudo dependerá da escolha do próprio jogador se ele julgar melhor agir de forma pacífica ou violenta. E esse é outro ponto que faz de Undertale uma experiência inesquecível.

Não podemos deixar de lado, também, a quebra da quarta parede que acontece em determinados momentos. Essa característica atrai os bons olhos dos jogadores caso feita de forma correta e coerente. Acaba deixando a experiência de que os NPCs têm sentimentos mais reais ainda, e insere elementos padrões de RPGs como SAVE e LOAD dentro do próprio jogo, fazendo-os ser parte do mundo de Undertale.

Outro ponto que o criador teve uma enorme sacada ao desenvolver o jogo foi o fato de saber que jogadores mais insistentes ou, melhor dizendo, mais “hardcore”, fariam o possível e o impossível para matar/vencer todos os bosses, inclusive os mais difíceis, só para saber o que aconteceria depois na história. Ele sabia que, mesmo fazendo-os passar por situações desagradáveis, essa atitude dos jogadores os impulsionaria a querer vasculhar e saber mais um pouco do jogo, uma vez que o interesse deles já havia sido fisgado. Através disso, ele criou um “elemento” in-game com o nome de DETERMINATION e o relacionou com uma característica do personagem principal, que mesmo morrendo várias vezes, ele sempre voltaria no último SAVE e tentaria novamente vencer a luta.

Todos esses fatores contribuem para o enriquecimento de Undertale, sem contar a história e a soundtrack que também são extremamente bem elaboradas.

A história

É meio difícil de entender algumas coisas que acontecem em Undertale. O jogo, às vezes, exige que uma mesma parte seja passada diversas vezes para que diálogos adicionais apareçam e expliquem (ou não) mais um pouco da história. Contarei aqui apenas a origem da trama e, se você se interessar, caro leitor, vá jogar essa incrível obra-prima!

Anos atrás, o mundo era habitado por humanos e monstros. Os humanos tomaram conhecimento de uma habilidade dos monstros, a habilidade de absorver almas humanas (SOULs). Com isso, eles passaram a temer os monstros e,undertale_by_boorim-d9azmo3 de repente, os atacaram violentamente, matando a maioria deles e iniciando uma guerra. Os monstros, no entanto, se renderam depois de um tempo. Logo, foram aprisionados debaixo de uma montanha, a Mount Ebbot, região conhecida como Underground pelos personagens de Undertale. Lá, os humanos usaram magia para criar uma barreira para que os monstros não pudessem voltar à superfície (Surface). A única forma, no entanto, deles saírem livres era usar o poder de sete SOULs humanas para causar a destruição da barreira. As esperanças e sonhos estavam perdidos, visto que eles muito duvidavam que humanos desceriam até embaixo da montanha.

O jogo, no entanto, começa mostrando uma criança que sobe a Mount Ebbot e cai no Underground…

Os personagens

Impossível descrever em detalhes a complexidade e sentimento de cada personagem importante. Cada um tem um ponto de vista bem diferente do que acontece em Undertale, sendo necessário interagir com eles de todas as formas possíveis para também conseguir explorar ao máximo a história do jogo.

O carisma, a felicidade, a tristeza, o medo, a revolta que os personagens expressam são demonstrados com muita intensidade, dando aquela sensação de estar lidando com, de fato, seres vivos.

Os personagens talvez sejam o ponto mais forte da trama, o apego que se cria por eles ao decorrer da campanha acaba se tornando, pra maior parte do público, um dos porquês de Undertale ser tão aclamado pela crítica. Toby Fox usou e abusou do sentimentalismo e, em determinadas partes, certamente agride o jogador de forma que o faz se sentir a pior pessoa do mundo. Jogue e entenderá.

A trilha sonora

A soundtrack de Undertale é sensacional. O álbum, vendido separadamente do jogo, contém 101 músicas e todas elas são compostas pelo próprio desenvolvedor. Este elemento de Undertale é um fator importantíssimo para a imersão do jogador no clima das situações impostas ao longo da jornada.

A soundtrack flui de tal forma que, sem perceber, envolve o player e certamente mexe com suas emoções. Há até histórias de algumas pessoas que só conseguiram ter paciência para tentar vencer uma luta diversas vezes (de tanto morrer) por conta da música que toca no background.

Concluindo…

Levando em consideração todos os seus pontos altos, Undertale é mais do que recomendado para se jogar. A história, misturada com a complexidade dos personagens e a adição da belíssima soundtrack resultam em um jogo de alta qualidade. Para alguns, o fato do game ser pixelado pode ser levado como um ponto negativo, mas particularmente, creio que um verdadeiro negativo do jogo é não ter mais de Undertale para explorarmos quando o terminamos completamente. Fica aquele vazio no ar…

De qualquer maneira, fica a dica para aqueles que estavam em dúvida, ou aqueles que nunca ouviram falar. Joguem e depois comentem o que acharam dessa obra de arte. 🙂

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