Análise: Observer mistura cyberpunk com terror em uma ótima fórmula

Uma coisa que me anima bastante é o esforço da indústria em trazer um gênero que ficou esquecido por vários anos. Desde a explosão que se iniciou em filmes como Blade Runner, o cyberpunk havia caído num limbo pouco explorado nos anos subsequentes. A vontade de trazer o futuro distópico de um mundo destruído por corporações privadas e implantes cibernéticos havia perdido seu espaço.

Em 2012, com o anúncio de Cyberpunk 2077, as coisas começaram a parecer promissoras — não há dúvidas que a CD Projekt Red irá fazer um trabalho espetacular com a série, assim como fez em The Witcher. Porém, nós sabemos (ou pelo menos temos uma ideia) de como o desenvolvimento de videogame funciona, principalmente quando os desenvolvedores criam suas próprias ferramentas. Seguimos aguardando até agora.

Por isso, ao saber que a Bloober Team — criadores do terror psicodélico em Layers of Fear — estavam trabalhando em um cyberpunk que mistura tecnologia e horror fiquei bastante animado. Observer reúne inspirações, detalhes e referências a outras peças do mesmo gênero, mas mantendo a mesma identidade criada pelo surrealismo de Layers of Fear.

De George Orwell à Blade Runner

Num futuro onde uma doença conhecida como nanophage matou milhares de pessoas com implantes cibernéticos ao redor do globo (e principalmente na Polônia, onde o jogo se passa), a linha tênue entre homem e máquina é embaçada a partir do momento em que se torna possível um vírus de computador ser uma ameaça considerável para a raça humana. O ano é 2084 e se transformou aquilo que vemos na ficção: viciados em drogas cibernéticas, prisioneiros de realidade virtual e uma qualidade de vida nada desejável.

Esqueça a competitividade entre empresas, o mercado como conhecemos não existe mais. Toda economia e equipamentos eletrônicos é unicamente comandado pela megalomaníaca Chiron Inc., também responsável pelos implantes cibernéticos para quem deseja um exponencial aumento de suas habilidades físicas e cognitivas. Como é de se imaginar, isso vem com um preço nada agradável: você nunca está seguro. Seja pelo sistema incessante de vigilância quanto doenças e vírus transmitidos eletronicamente.

Em meio a esse caos, alguma ordem precisa se imposta. Talvez categorizado como uma força policial da Chiron — alguém que limpe a sujeira deixada para trás por criminosos ou, simplesmente, alguém que consegue obter informações que ninguém mais consegue. Essas pessoas são chamadas de Observers e é aí que o jogo começa. O jogador incorpora um Observer chamado Daniel Lazarski que está investigando uma série de assassinatos num prédio de inquilinos ao mesmo tempo que obtém rastros de seu filho desaparecido, Adam Lazarski.

Daniel tem a habilidade de se conectar ao chip cerebral dos implantados e ‘explorar’ a mente da pessoa em busca de pistas ou informações importantes na investigação. As “dream eater sequences” são viagens psicodélicas em mentes perturbadas pelo uso de narcóticos e de um mundo decante — é bastante difícil abstrair qualquer significado concreto dessas pessoas, apenas indagações que podem ser úteis para Daniel.

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Do mesmo jeito que vimos em Layers of Fear, a ambientação é um dos pontos mais altos e detalhados em Observer. Mesmo que seja em pequena escala e linear, a retratação de um ambiente que mescla o virtual e real mostra um mundo onde não gostaríamos de viver. Com a distopia em alta, há uma certa pegada retrofuturista também: os interfones nos apartamentos dos inquilinos são pequenas telas de baixa resolução acopladas a um pequeno alto-falante não muito diferente do que temos hoje. Apesar dos hologramas e um sentimento de estar na Matrix, há um mini-jogo em 8 bits em alguns computadores que encontramos pelo jogo.

Daniel não usa armas de fogo ou qualquer outro objeto que sirva de maneira ofensiva — as mecânicas e o game design favorecem para o lado exploratório das coisas. Na maioria do tempo você estará interrogando inquilinos e analisando cenas do crime em busca de pistas. Para isso, Lazarski conta com dois tipos de ‘visão’, uma eletromagnética para objetos eletrônicos e similares, e uma outra para substâncias orgânicas, capaz de analisar como determinada vítima foi morta. É necessário pegar o máximo de pistas possível para avançar na história, mas não se engane: aqui não é nenhum L.A Noire e as pistas servem primariamente para seguir no jogo.

No final das contas

Como dito, Observer é um jogo linear. Infelizmente, temos apenas uma palhinha do que a indústria indie atual pode fazer com essa temática. Para um estúdio pequeno como a Bloober Team, Observer traz um ar fresco ao misturar o cyberpunk com terror psicológico. Embora em muitos aspectos (principalmente nas partes relacionadas ao dream eater) seja extremamente parecido com o último jogo da empresa, vemos aqui uma identidade que tenta ser genuinamente original.

Se você tem o mínimo de interesse em saber como é viajar na mente perturbada de alguém num futuro distópico, Observer não vai te decepcionar.

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A análise de Observer foi realizada com base na versão para PC cedida gentilmente pela produtora.

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