Análise – NBA 2K16

Ambicioso, detalhado e cheio de novidades, NBA 2K16 é o jogo de basquete definitivo… para partidas offline.

A série NBA 2K já virou muito mais do que uma simples franquia de games, entre os fãs de basquete, virou uma cultura. Com o visível atraso da série concorrente NBA Live, 2K simplesmente não tem competidores, e está presente na vida até mesmo dos jogadores, que aparecem jogando o game sem qualquer patrocínio por trás ou até utilizam o jogo em contexto de provocação, como quando o lendário Paul Pierce disse que seu jovem oponente o criticou por ter escolhido-o no 2K e errado um arremesso.

A edição deste ano dá uma lição de como justificar uma sequência anual e eleva o patamar em quase todos os níveis, incluindo a própria jogabilidade e adições muito bem-vindas de novos modos de jogo.

Assim como os jogos da NBA que são um verdadeiro espetáculo, em 2K, é tudo sobre a apresentação.

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A começar pela trilha sonora, que ano passado teve Pharrel Williams como curador, o que resultou em uma lista muito mal direcionada, trazendo diversas músicas divergentes do gosto geral dos fãs de basquete. Neste ano, a produtora contou com três curadores diferentes, todos DJs bastante conhecidos como Mustard e Khaled, e as listas trazem grandes nomes como Ramones, Jay Z, Wiz Khalifa e Imagine Dragons. Além disso, outras músicas foram adicionadas, incluindo duas brasileiras, dos artistas Rael e Emicida.

De fato, a trilha sonora escolhida é de cair o queixo, o nível de investimento claramente é altíssimo. As músicas te acompanham durante os menus e nos momentos de treino, seja em algum modo específico ou apenas numa quadra livre para treinar bolas de três pontos. Provavelmente, a melhor playlist de um jogo de esportes em muitos anos.

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O estilo televisivo característico da série continua, até mesmo antes da partida começar. O programa de pré-jogo, que agora tem um cenário muito caprichado e um apresentador a mais, mostra três apresentadores reais da TNT comentando os detalhes do confronto – entre eles, está Shaquille O’Neal (apresentador e tricampeão da NBA) com suas clássicas piadas e estilo humorístico. O show agora também aparece no meio do jogo e no final, com cenas das melhores jogadas e comentários específicos. Sendo fã ou não, é bastante incrível a precisão e o cuidado no que é falado pelos apresentadores.

Durante os jogos, a representação de um jogo real da NBA é fiel ao extremo, trazendo todos os patrocínios idênticos, reações da torcida – é incrível ver o ginásio esvaziando conforme o time da casa vai perdendo de uma grande diferença – e ações dos jogadores. Tim Duncan abraça a bola antes de cobrar o lance livre, James Harden faz sua comemoração de “chef” após uma bola de três e Stephen Curry morde o protetor bucal sempre que pode. Junto a tudo isso, a representação física dos jogadores está fantástica, especialmente nas maiores estrelas, que receberam tratamento especial.

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Vivendo o sonho

O carro chefe da nova edição de NBA 2K é o modo MyCarrer totalmente remodelado e dirigido pelo premiado cineasta Spike Lee.

Ao invés de começar como um jogador estabelecido e pronto para jogar nas grandes franquias, o novo MyCarrer te coloca como uma promessa do Ensino Médio, tendo que subir todos os degraus até a NBA, passando pela época de faculdade. Vale notar que as quadras são muito bem representadas durante todo seu trajeto. Seus primeiros jogos, por exemplo, possuem um placar antigo e a presença de algumas dezenas de pessoas, com gritos de torcida das escolas dos Estados Unidos e algumas poucas líderes de torcida amadoras.

A direção de Lee adicionou diversas camadas de drama, diálogos interessantes e relações entre os personagens. Embora seja um roteiro visivelmente travado e limitado pelo pouco tempo que o estúdio tem para o lançamento do jogo, ainda existem decisões importantes dadas ao jogador, como decidir em qual faculdade estudar e jogar, baseado nas falas breves dos recrutadores das instituições que acreditam em seu potencial.

Se antes as estrelas da NBA que apareciam nas cutscenes não possuíam nem voz (algo extremamente bizarro), agora a produtora contou com trinta jogadores, um de cada time da liga, para fazer o trabalho de dublagem de suas respectivas representações. Claro, os jogadores não possuem a qualidade de atores, mas a adição faz com que finalmente seja interessante arrumar uma briga com Anthony Davis ou receber um elogio de Dwayne Wade.

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Mais importante do que os dias de jogos são seus dias de folga. A interface do MyCarrer te incentiva a utilizá-los da maneira que você quiser, podendo se encontrar com estrelas da NBA para causar uma boa impressão e ter novos contatos, ou ganhar um bom dinheiro extra com patrocínios. Às vezes, você terá que escolher entre fazer potenciais conexões com a ajuda de Stephen Curry ou aparecer para gravar um comercial para a Adidas. O jogo certifica-se de fazer com que você não consiga agradar todo mundo e tenha que lidar com as consequências.

Não espere por grandes reviravoltas ou histórias complexas. Aqui, mesmo tendo toques de drama, o enredo é simples, mas é a melhor tentativa de colocar uma história em um jogo de esportes, e com certeza ter Spike Lee de volta nos próximos anos seria excelente.

O jogo ainda conta com o MyGM, onde você pode gerenciar sua própria franquia, MyTeam, onde é possível criar seu time dos sonhos, utilizando jogadores de todos os times para formar um só, e MyPark, que é uma boa chance de treino e novos desafios, com a novidade do jogador poder passear pelas diversas quadras – estilo mundo aberto – e ficar “de próximo” para tentar uns arremessos.

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Dentro de quadra

A jogabilidade de NBA 2K16 recebeu diversos aprimoramentos técnicos, com o objetivo de finalmente forçar os jogadores a usufruir do grande leque de dribles e movimentos característicos de cada jogador. Agora, correr pela quadra em círculos, esperando o tempo quase estourar para fazer uma jogada vai resultar em erros constantes, e até mesmo os mais acostumados precisam de um pouco de prática.

Com isso, a linha de aprendizado funciona relativamente bem – embora o começo seja difícil e talvez um pouco frustrante pela falta de tutoriais no jogo – e após algumas horas ficará claro que, ao invés de forçar bolas de três como no jogo passado, é mais garantido isolar um pivô perto da cesta para obter os dois pontos fáceis com uma enterrada ou bandeja.

Infelizmente, toda essa fluidez e precisão da jogabilidade se perde quando a partida é online. A franquia vem melhorando a qualidade da infraestrutura dos servidores nos últimos anos, mas este problema persiste na série e, desculpem a desilusão, não deve ser corrigido por atualização ou algo do gênero.

Partidas online são quase sinônimo de frustração (isso mesmo nos Estados Unidos, que tem muitos jogadores ativos), com movimentos tendo um evidente atraso na resposta dos comandos e uma dificuldade extra para acertar os arremessos, já que a barra de precisão começa e termina atrasada, resultando em chutes imprecisos mesmo quando a chance é clara.

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NBA 2K16 faz bonito com o gameplay mais fluido e cadenciado, a apresentação impecável e o novo modo MyCarrer que está sempre te dando motivos para continuar sua trajetória. O nível de investimento e dedicação no jogo faz com que NBA Live fique muito atrás, e resulta no que deve ser o melhor jogo de basquete até agora.

No entanto, a série arca com as consequências de sua ambição e precisa de algum tempo para executar tudo com perfeição, como no caso do enredo de sua carreira que poderia ser mais complexo, a falta de tutoriais intuitivos e principalmente os persistentes problemas de conexão no modo online. A parte boa é que há novidades de sobra para explorar sem conectar-se aos servidores.

Apesar de estar a alguns passos da perfeição absoluta, NBA 2K16 é incrível nas partidas offline e eu simplesmente não consigo parar de jogá-las.