Análise: My Friend Pedro combina elegância, tiroteio e bananas

Há tempos venho querendo um jogo que me deixasse ser puramente estiloso. Não no sentido visual, mas de gameplay: combinar sequências em slow motion, cambalhotas, piruetas e toda a euforia que eu senti quando assisti as cenas de luta em Matrix pela primeira vez. Max Payne e outros shooters do gênero te davam esse gostinho ao introduzir mecânicas como o bullet time ou acertar aquele headshot quase impossível, mas nenhum outro combinou tantas outras mecânicas de forma harmoniosa quanto o novíssimo título publicado pela Devolver Digital desse ano.

My Friend Pedro é um sidescroller que junta elementos de tiro, plataforma e ballet numa mistureba que me prendeu por várias horas. Finalmente havia encontrado meu jogo para expressar tudo o que eu sempre quis fazer num videogame: chutar uma frigideira pra cima e atirar nela para matar todos os inimigos com as balas ricocheteando para todos os lados. Quer dizer, eu não sabia que eu gostaria de fazer exatamente isso, mas depois de ter descoberto que era possível, senti um sonho sendo realizado. Apesar de contar com algumas sequências claramente dentro de script, pude me divertir horrores.

Meu amigo é uma banana

Não é necessária nenhuma história coerente, apenas uma razão pra fazer o que você gosta. Misturando elementos que já foram vistos em outros títulos da Devolver, como Hotline Miami, My Friend Pedro mantém uma sequência frenética rítmica que dispensa qualquer apresentação. Ao som de uma batida eletrônica meio synthwave, o protagonista tem apenas uma missão simples: matar tudo e todos de uma determinada área, encontrar o chefão, matá-lo também, e seguir para a próxima. Guiado por Pedro, a banana com consciência, o toque de surrealidade só agrega ao sentimento cômico que o jogo possui.

Recheado de referências e throwbacks a outros jogos, os níveis começam bem familiares (distritos suburbanos), passando pela famosa fase no esgoto e outras que não vou estragar a surpresa. O level design de algumas fases, apesar de ser bem claustrofóbico, é construído para seguir uma linearidade, sempre com um número certo de inimigos a serem mortos. O jogo segue um sistema de pontuação que quanto mais estilo você matar alguém, mais seu multiplicador aumenta – deixando bem claro que, em função de atingir ranks mais altos, o jogador deve seguir uma sequência coreografada de assassinatos.

Capaz de pular, girar para desviar de tiros, dar cambalhotas em pleno ar e mais meia dúzia de movimentos orquestrados, a movimentação aqui é a chave para o sucesso e o ritmo geral mantém o jogador entretido do começo ao final. Porém, é necessário ter cautela: mesmo na dificuldade padrão, os inimigos não darão trégua em nenhum segundo, te obrigando vigiar a barra de vida constantemente. Qualquer descuido em relação a esquiva é o bastante para te fazer perder a precisão dos movimentos, morrer e te jogar para o último checkpoint.

O amigo de Pedro – além de ser um assassino muito bem treinado – conta com um arsenal até bem variado. Pistolas, submetralhadoras, rifles de assalto, shotguns e snipers serão suas armas de combate. É possível segurar duas pistolas ou duas submetralhadoras ao mesmo tempo, bem estilo Max Payne, dividindo a mira e acertando dois inimigos separadamente. É possível utilizar alguns objetos do cenário para te auxiliar nas lutas: frigideiras (como mencionei no começo), galões de combustível que explodem, facas de cozinha, barris de metal e até pedaços desmembrados de inimigos, sendo possível “mirar” essas coisas e jogá-las contra seu alvo.

Andar de skate, quebrar janelas e usar tirolesas enquanto atira são outros recursos muito bem vindos para incrementar as cenas de ação que o jogo tanto te faz experimentar de diversas formas e modos.

Freneticamente cativante

My Friend Pedro é um acerto em cheio pela DeadToast Entertainment e mais uma pérola para o catálogo da Devolver Digital. Com uma execução simples, um gameplay viciante e bem feito, My Friend Pedro consegue contornar com folga alguns de seus problemas, como a campanha curta e o design claustrofóbico de algumas fases.

Se você é amante de jogos independentes e curte um bom jogo que irá testar seus reflexos tanto quanto sua habilidade de plataformas, My Friend Pedro merece ficar no seu radar de novidades. E prepare-se para ter uma banana como seu melhor amigo.