Análise: Hearts of Stone e Blood and Wine de The Witcher 3 marcam um novo patamar para DLCs

Se a gente fosse ter aquele papo chato pra caramba sobre o quanto a prática de DLCs e outros tipos de formatos nocivos que “fatiam” o conteúdo original, não sairíamos daqui hoje. O ”câncer da indústria”, porém, está um pouco além disso e varia muito como, de quem e para quem vão fazer uma salada de conteúdos adicionais. Mas será que o diabo é como pintam mesmo? Os desenvolvedores de The Witcher ensinam uma lição ao priorizar a sua experiência, em vez de sua carteira.

Como se um jogo extraordinário não bastasse, as expansões Hearts of Stone e Blood and Wine te lembram como jogar videogame contém surpresas além da diversão. Adicionando muito além do que simples horas a mais de gameplay, nunca desejei tanto que aquilo tudo durasse só um pouco mais. Só mais uma quest, só mais um contrato. Ao final, apesar da jornada inesquecível, o sentimento de ter se tornado órfão é desolador. Saudades é tudo o que sobra quando você se despede de Geralt e todo o elenco daquele universo.

Vim aqui contar como foi essa experiência.

[divider]Hearts of Stone[/divider]

Toda boa história começa com um contrato. Simples e direto: mate determinada criatura que está causando problema. Porém, o que seria apenas mais um contrato vai muito mais além: Geralt se depara com questões que estão fora de sua ética de witcher e se envolve em algo bem mais complicado para um profissional caçador de recompensas. Ao ler sobre um monstro que estaria matando tropas de um exército próximo a Novigrad, o lobo branco decide investigar e vai atrás de quem colocou aquele contrato ali para arrecadar mais detalhes sobre a criatura.

Chegando à uma mansão localizada numa nova área de Velen/Novigrad disponível no mapa, Geralt se depara com uma gangue chamada “Wild Ones”, liderada pelo redaniano Olgierd von Erec. Olgierd é um homem misterioso, possui seus charmes e sabe como conversar. Ele explica que a tarefa de Geralt é bem simples: o monstro a ser caçado é uma espécie de sapo gigante, que atualmente vive nos esgotos de Novigrad. Aceitando o contrato, Geralt, ao encarar os esgotos, encontra com uma velha conhecida (do primeiro The Witcher, na verdade) chamada Shani. Ela é uma estudante da faculdade de medicina de Oxenfurt e está ali prestando socorro às vítimas da criatura.

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Geralt não aguardava o que estava por vir. Aquele sapo monstruoso não era apenas um sapo e iria custar a liberdade de nosso protagonista perante o reino de Ofir — uma espécie de comunidade “árabe” distante daquelas terras. Geralt se envolverá bem mais profundamente com seu passado, Olgierd e sua família, e um homem bem curioso, chamado Gaunter O’Dimm — conhecido como ”o mestre dos espelhos”.

A história é intrigante, bem contada e representa a superqualidade resultante de quem sabe o que está fazendo. Um novo patamar de narrativa te prende aqui como qualquer outra grande quest no jogo principal — você sente que precisa saber, entender e conhecer a fundo cada um dos personagens. Não há espaço para trama rasa ou personagens desinteressantes: todos no seu caminho têm uma história pra contar. Ótimas histórias, por sinal.

Todo desejo tem seu preço

A grande novidade aqui é o enredo expandido, não há segredo. As mecânicas permaneceram as mesmas, com a adição de novas cartas de Gwent, um novo sistema de runas e outros itens e equipamentos. Há também novos contratos e missões paralelas que acontecem ao mesmo tempo que o enredo principal — todos valendo um pedacinho do seu tempo para explorar e tirar aquela interrogação irritante do mapa.

Hearts of Stone foi o primeiro pacote da expansão e, apesar de não contar com uma grande área nova, não tem problema. O norte de Novigrad foi expandido e o enredo se beneficia dessa pequena porção: tudo se desenvolve de maneira natural, te deixando com vontade de mais The Witcher. Entretanto, a surpresa mesmo vem logo a seguir.

[divider]Blood and Wine[/divider]

E aqui foi a grande despedida. Grande em todos os aspectos que você conseguir imaginar, Blood and Wine é recheado com todo o tipo de conteúdo que daria quase um outro jogo — inclusive um novo mapa. Dessa vez, o witcher viaja por conta de um contrato bem especial de uma pessoa do alto calão de um reino predominantemente francês e estranho às terras do norte.

Os serviços de Geralt foram requisitados pela rainha Anna Henrietta, de Toussaint, o reino do vinho. A Vossa Excelência alega que uma nefasta criatura está matando seus nobres cavaleiros e demanda que o witcher faça alguma coisa — e rápido. Não demora muito para que Geralt aceite o contrato (além da quantia oferecida como recompensa, é claro) e tome viagem rumo ao castelo a fim de desvendar o mistério que assola os grandes produtores de vinho da região e sua população pacata.

Chegando à área, embora as mutações de witcher não permitam mais que um singelo sorriso, é impossível não se encantar com a majestosidade do lugar. Serras, planos, pequenas montanhas, florestas e bosques; o trabalho de arte excede qualquer nível profissional que a CD Projekt RED tenha feito antes. Com a beleza de uma pintura, chamar seu cavalo e cavalgar floresta adentro se torna uma atividade quase necessária — e é deslumbrante. Toda a beleza carrega detalhes, história e algo muito além que os olhos veem.

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Vinho, vampiros e traição

Embora o enredo de Blood and Wine não seja tão intrigante e cativante quanto o de Hearts of Stone, é certamente um marco espetacular quando falamos de contar histórias — novamente, somos lembrados do peso da qualidade da desenvolvedora ao criar essas adaptações e novos contos. Geralt encontra um velho amigo e uma colossal conspiração contra o governo de Henrietta, cujo esclarecimento exigirá muito mais que um simples contrato.

Junto com a nova e imensa área, Geralt também encontra uma nova casa. No estado de Corvo Bianco, um alojamento não tão modesto é oferecido ao witcher enquanto ele realiza seus trabalhos na região. É possível decorar, enfeitar, pendurar quadros, troféus e deixar tudo o mais aconchegante possível. Afinal, é a sua casa. O mordomo Barnabas-Basil estará lá para te ajudar também.

As mutations também são um novo sistema presente em Blood and Wine. Ao descobrir experimentos antigos de um pai numa tentativa frustrada de reverter as mutações de witcher em seu filho, Geralt se utiliza desse meio para fortalecer suas sinapses e mutações. Novas habilidades podem ser destrancadas e combinadas, deixando o lobo branco ainda mais letal que no começo de sua jornada.

No fim das contas, Blood and Wine fecha um pacote que a princípio parecia impossível de exceder qualquer nível de qualidade pré-estabelecido. Talvez a melhor particularidade dos desenvolvedores poloneses seja isso: a surpresa. Surpresa de sempre superar suas expectativas, de sempre fazer algo mais especial que o conteúdo passado.

Stonecutters' Settlement

Posso soar até dramático, mas é complicado se despedir assim. O famigerado vazio existencial pós-Witcher é difícil, lento e doloroso. Ao terminar o jogo principal, pelo menos sabíamos que haveria algo depois. Não era um adeus completo, mas, infelizmente, agora é.

Depois de tantos contratos, viagens, histórias e aventuras, meu baralho de Gwent certamente vai começar a juntar poeira. Nos vemos novamente em Cyberpunk, CD Projekt Red.

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A análise da expansão Blood and Wine foi realizada com base na versão de PlayStation 4 disponibilizada gentilmente ao Jogazera pela CD Projekt Red.

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